segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Um pouco da história do Mimese cia de dança-coisa

        Em 2002, na cidade de Cruz Alta, por ocasião de estar trabalhando no Curso de Dança da UNICRUZ, a bailarina Luciana Paludo cria o Mimese cia de dança-coisa. Mais do que um grupo, ou uma companhia de dança, o "Mimese..." (leia-se Mímese) é um modo de operar; um conceito operatório. Em sua concepção inicial, era um lugar para que professores, acadêmicos e egressos do Curso de Dança da UNICRUZ realizassem pesquisas de movimento e as testassem em configurações estéticas. O elenco inicial do Mimese era composto por Rubiane Zancan, Wilson França, Janaína Jorge, Katia Kalinka, Vanessa Steigleder, Carla Furlani e Luciana Paludo. Depois, Cris Martel passou a integrar o elenco. Também era um espaço para que algumas produções dos acadêmicos do Curso de Dança, os quais não faziam parte do elenco, experimentassem suas primeiras composições - como foi o caso de Thiago Amorim, Tavane Santa Catarina, Diogo Kronbauer, Annie Heinsfeld, Igor Pretto, Anelise Prestes e Letícia Guimarães; esses três últimos passariam a integrar o Mimese em 2006; Thiago e Diogo colaborariam em apresentações do Mimese, também no ano de 2006. É importante salientar que em sua fase inicial, o Mimese contou com o apoio incondicional de Carmen Hoffmann, que era coordenadora do Curso de Dança, na época em que o grupo foi criado. Ao longo de sua trajetória, o Mimese contou com a colaboração de vários artistas e isso será mencionado no decorrer desta postagem. A seguir, vale conferir um pouco da trajetória de Luciana Paludo, uma vez que o Mimese é um dos desdobramentos, uma das invenções que tem marcado a sua existência dedicada à dança...

       Luciana teve sua base de formação no ballet clássico e na dança moderna / contemporânea; em sua graduação, Bacharelado e Licenciatura em Dança (Curitiba, 1987-1990), seus aprendizados passaram pela estética e história das artes; pela cinesiologia e pela fisiologia; pela composição coreográfica; pela prática da improvisação e pela Ideocinese, a qual era praticada nas aulas de ballet clássico. No mesmo tempo em que realizava sua graduação, também cursou a Escola do Teatro Guaíra. Voltou ao RS em 1991 e começou seu trabalho de bailarina, professora e pesquisadora, de maneira autônoma; sua característica se delineou com os trabalhos em colaboração, inicialmente com seus alunos, depois, com outros artistas. Entre os anos de 1992 e 2000, criou e dirigiu do “Balé do INSA" - Instituto Nossa Senhora Auxiliadora - colégio que gentilmente emprestava o espaço para as atividades do grupo acontecer, em São Luiz Gonzaga. O Balé do INSA era uma Escola de Dança, na qual sempre houve um grupo de alunos que trabalhava, de forma intensa, todos os dias com Luciana. Coreografias como "Os exibidos" de Carmen Jorge e "Hall of mirror" de Eva Schul fizeram parte do repertório do Balé do INSA. Muitos de seus alunos se enveredaram para atuar como profissionais da Dança.

Você pode conferir a coreografia "Hall of mirror", dançada pelo grupo no link: https://www.youtube.com/watch?v=p_7ZllB0O48 .

     Os experimentos com o Balé do INSA levaram Luciana a iniciar um processo de pesquisa, docência, composição e interpretação de seus próprios movimentos; aos poucos, a relação entre a preparação corporal e o resultado coreográfico entrava em evidência. É importante salientar que desde que retornou de Curitiba, PR, para o RS, a preparação corporal diária sempre foi feita pela própria bailarina, em colaboração com seus alunos. Obviamente, sempre realizou cursos de aperfeiçoamento com outros professores, mas, o trabalho de manutenção, descobertas e desenvolvimento das possibilidades corporais, é feitos de maneira autônoma, todos os dias, há 26 anos. Entre os anos de 1999 e 2001, Luciana criou e interpretou solos curtos, os quais ela levou para festivais competitivos de dança - uma vez que circular sua produção, morando no Interior do RS, não era uma tarefa tão fácil. Obteve reconhecimento da crítica dos festivais e conquistou diversas premiações, entre as quais, duas vezes o 1º lugar, no solo contemporâneo avançado, no Festival de Dança de Joinville: em 2000 com a coreografia "Um piano só"; em 2001 com "Mesmo assim", trabalho que lhe daria a premiação de melhor bailarina do festival.

        Motivada pelas pesquisas de movimento, em 2002 criou o “Mimese cia de dança-coisa”, como um Projeto de Extensão da UNICRUZ. O Mimese desenvolveu linguagem e repertório; não somente Luciana coreografava, mas, os seus integrantes, os quais eram professores, acadêmicos e egressos do Curso de Dança da UNICRUZ. Também Mario Nascimento trabalharia com o grupo, coreografando “Além Disso” (conjunto); “Quem engana não ganha” (trio) e “Se a morte bater na minha porta, diga a ela que volte amanhã” (solo). Em 2006, no Projeto Casa Bild, idealizado pela coreógrafa Jussara Miranda, Luciana desenvolveu o trabalho “Um corpo bem de perto”, o que lhe renderia reconhecimento da crítica e três Prêmios Açorianos de Dança, em 2007 (melhor bailarina, coreografia e trilha sonora, em colaboração com Carolina Sulczinski). 

      Desde que havia ingressado no Mestrado em Artes Visuais (2004), começou a criar o conceito de “Os humores do poeta”; em 2005, por um trabalho em colaboração entre artistas de várias vertentes da arte, esse espetáculo surgiu pela primeira vez. Estreou no Teatro de Arena em Porto Alegre e contou com a colaboração dos artistas Amelia Brandelli, Paula Krause, Katia Kalinka, Daggi Dornelles e Tadeu Liesenfeld. "Os humores..." transitava entre a coreografia e a performance; ganhou incentivo do Prêmio de Circulação Nacional - Dança da FUNARTE, em 2007. Foi apresentado em diversas cidades brasileiras; em cada cidade havia um artista convidado, com o qual foi possível trabalhar, de maneira virtual e presencial, durante o mês da apresentação. As cidades que receberam o espetáculo "Os humores do poeta" foram: Porto Alegre, em sua estréia com o bailarino e coreógrafo Eduardo Severino; Florianópolis, com a bailarina e coreógrafa Elke Siedler; São Paulo, no Centro Cultural São Paulo, tendo como artista convidado o bailarino e coreógrafo Mario Nascimento; Curitiba, com a bailarina e pesquisadora Marila Velloso; Votorantin, SP, com os bailarinos Jeniffer Vieira e Rodrigo Chiba; e, novamente, em Porto Alegre, para o encerramento da Caravana, onde a colaboração foi feita com as bailarinas Daggi Dornelles e Janaína Jorge (em memória). Sempre contando com a presença da artista visual Paula Krause e com a colaboração, na trilha sonora do músico Pedro Rosa Paiva.

      Coreograficamente, a realização do projeto, como um todo, de “Os humores do poeta” movimentou toda uma maneira de lidar com a composição coreográfica da bailarina Luciana Paludo. E isso novamente influenciou a sua maneira de fazer e de dar aulas. A improvisação passou a fazer parte da cena – e das aulas; o inusitado; a coreografia não tão determinada; a performance. Ressalta-se que a improvisação sempre foi praticada pela bailarina, desde os tempos da faculdade; mas, nesse momento, a improvisação passou a ser uma "questão de composição". Todas essas questões tiveram influências, além dos artistas da dança, do convívio com artistas de outras áreas, durante o mestrado nas artes visuais; também, pelo fato de “abrir a cena para artistas convidados”, os quais colaboram para a ressignificação de modos de mover e, também, de pensamentos. “Os humores do poeta” era uma metáfora usada para sinalizar uma certa contradição estética, na obra de Luciana – ou, talvez, uma “falta de identidade e pertencimento” da bailarina. Oriunda do ballet clássico e da dança moderna, suas pesquisas de composição e seu exercício docente a levaram a sistematizar um modo de operar com a dança que tem relação com os preceitos contemporâneos de dança.

        Então, cada trabalho sempre esteve permeado pelas perguntas: “O que dançar? Como dançar? O que se pode levar à cena? Como lidar com as referências consideradas, por alguns pares da dança, “antigas” da dança moderna? Eram muitos conflitos, uma vez que as criações encontravam diferentes exigências de públicos... Havia o público “dos festivais”; o público “do espaço acadêmico”; o "público em geral da dança" e essa tríade já era mais que o suficiente para alimentar os conflitos e as discussões – sempre compartilhadas com o elenco do Mimese cia de dança-coisa.
        Desde 2007, até os dias atuais, o Mimese trabalha por projetos; convida outros artistas para atuar em colaboração e realiza produções independentes. Um dos últimos trabalhos em colaboração do Mimese é "Sala Vazia" (iniciado em 2013): o coreógrafo Diego Mac assina as imagens do vídeo, Pedro Rosa Paiva e Diego Poloni, a trilha sonora e o figurino é da bailarina e figurinista Laura Bauermann - para a concepção de Luciana Paludo. Veja o vídeo neste link: https://www.youtube.com/watch?v=wLJa230Vab4



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