sexta-feira, 22 de abril de 2016

Projeto 'Luciana Paludo convida...' realiza 2ª Edição

Luciana Paludo convida... Douglas Jung




Dois corpos bem de longe

Dia 30/04/2016 – 18h

Início: Sala 209 / segue para o Mezanino / término: Sala 209
Usina do Gasômetro

Ingressos no local: R$ 20,00 inteira / R$ 10,00 meia [estudante, classe artística, idoso]

No dia 30 de abril, às 18h, num percurso que se estabelecerá entre a Sala 209 e o Mezanino, na Usina do Gasômetro em Porto Alegre, a bailarina Luciana Paludo convida Douglas Jung para a cena. “Dois corpos bem de longe”, o título, foi uma ideia de Douglas, numa analogia à obra “Um corpo bem de perto” (2006), de Luciana. Desta vez o que inspira o trabalho dos bailarinos é a relação dos corpos com diferentes espaços e diferentes tipos de materialidade e perspectivas. Do ato de fala à dança; dos estudos de exercícios técnicos de dança ao diálogo sobre questões estéticas, a poética está se construindo. O pensamento como matéria; a palavra impregnada de imagens e sugestões cinéticas; os jogos que se estabelecem pelo simples fato de que dois corpos, a partir de suas referências em dança, estarem dispostos a dividirem e a construírem um espaço, compreendido e simplificado pelo nome cena

O projeto estreou em 20 de março de 2016, tendo como convidado o bailarino Airton Rodrigues. E a razão deste projeto se sustenta pela intenção de colocar em jogo a pesquisa de movimento em dança de Luciana com um bailarino convidado, a cada edição. Ao longo do ano de 2016 estão previstas mais 7 apresentações. A Sala 209 tem sido o lugar de trabalho, mas, as apresentações poderão ser redimensionadas para outros espaços. É o que acontecerá em 29 de maio, quando Diego Mac divide a cena com Luciana na Casa Frasca (espaço cultural da Av. Independência, 426).  Ao final de junho, o projeto retorna à Sala 209, tendo como convidado Eduardo Severino – essa é a programação para o primeiro semestre.

            O objetivo é que em cada edição esteja em jogo diferentes linguagens autorais que, ao entrarem em relação na mesma cena, encontrem modos de se (re)significarem; justamente pelas influências que o trabalho em colaboração pode exercer na criação em dança. 

O projeto é alimentado pela pergunta-movimentoo que move meu corpo até ele chegar à cena?”. Então, os artistas inventam seus movimentos-resposta, a partir da cooperação no trabalho de criação.
  
Ao ser questionado por Luciana, em relação ao que o está movendo, motivando para este encontro dançado, Douglas mencionou: Acho que são os "[meus] assuntos da vez": o contato com o corpo e o espaço me deixam curioso. Curioso por respostas motoras ou soluções poéticas. É a curiosidade sobre esses assuntos que me motivam a ir pro estúdio, para além de querer saber "por quê" ou "o quê" me leva até o espaço de trabalho.

A metodologia de trabalho se realiza no seguinte sentido: no mês do espetáculo, os próprios artistas definem as maneiras de se encontrar para realizar a criação; isso faz parte da proposta e do projeto.

Para a edição 2016, além de o projeto contar com Diego Mac (maio) e Eduardo Severino (junho), seguirá com Elke Siedler (agosto) e Carla Vendramin (setembro). Mais dois artistas serão convidados durante o ano, para as edições de outubro e novembro.

Ficha Técnica:
Concepção coreográfica e dança: Luciana Paludo
Colaboração na criação e dança: Douglas Jung
Colaboração: Fernanda Bertoncello Boff, Karrah Luz, Kyrie Isnardi, Gabriela Paludo Sulczinski, Wagner Ferraz e Ana Carolina Klacewicz.
Montagem de luz e apoio técnico: Karrah Luz e técnicos da Usina do Gasômetro
Figurino: Laura Bauerman
Produção: Ana Paula Reis e Mimese cia de dança-coisa
Apoio: Eduardo Severino Cia de Dança / Projeto Usina das Artes / Coletivo de Dança Sala 209.

*Foto desta postagem: Fernanda Boff; edição: Gabriela Sulczinski*


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Danças, entre março e abril de 2016

O ano de 2016 iniciou e a imaginação veio à baila 
Em alguns momentos desse início, contei com um período de férias; e foi com a dádiva do tempo à disposição que a imaginação encontrou um espaço para existir novamente.

No mês de janeiro foi a vez de esboçar projetos... Inicialmente, o "Luciana Paludo convida...", tendo Ana Paula Reis e Eduardo Severino como primeiros parceiros; em fevereiro, parti para a execução. Em 20 de março, aconteceu a estreia com Airton Rodrigues como convidado, na 12ª edição da Mostra Movimento e Palavra, na Sala 209. 

Ainda em fevereiro, tive a ideia e escrevi dois projetos, um de extensão, outro de pesquisa - e os cadastrei no sistema de extensão e de pesquisa da UFRGS. O projeto de extensão é o "Mimese cia de dança-coisa", o qual já está acontecendo, toda a segunda-feira, das 14h às 18h, na Sala 209 da Usina do Gasômetro. Cerca de 25 pessoas fazem parte desta nova configuração do Mimese; a proposta é que, no decorrer de dois meses [uma espécie de processo de seleção] fiquem 15 pessoas. Mas, essa é apenas a proposta, pois estou muito feliz com a disponibilidade e o interesse de todos, para o trabalho que estou propondo. O outro projeto [de pesquisa] chama "Pesquisa de linguagem autoral em Dança", e é para durar 5 anos; o "Luciana Paludo convida..." é a ação de pesquisa prevista para o ano de 2016.

Em meio às escritas, uma ação do projeto "Dos sensíveis", em colaboração com o fotógrafo Marcelo Cabrera; o ensaio foi feito na Casa Frasca:




Em fevereiro também recebi o convite de Andrea Spolaor, para uma apresentação em comemoração ao Dia Internacional da Mulher; teríamos que formar o espetáculo, em colaboração com, além de nós duas, Daggi Dornelles e Elke Siedler. Foi um momento emocionante, de trocas, de muita dança e acolhimento umas às outras. O espetáculo foi nominado D.E.L.A. [iniciais de Daggi, Elke, Luciana, Andrea]; aconteceu no Teatro Bruno Kiefer, no dia 12 de março. Abaixo, uma foto do Frank Jeske.



Em final de fevereiro também iniciei o ano letivo na UFRGS; escrevo hoje, 20 de abril, com uma sensação de gratificação, pois percebo que este movimento todo [da imaginação] tem reverberado nas palavras, nos gestos, nas ações e nas proposições que tenho realizado / mediado em aulas. Então, retomo algo que faz muito tempo que penso [e que está nas argumentações de meus projetos de pesquisa e de extensão]: o quanto que as práticas artísticas e docentes se retroalimentam. Para mim, não há separação; há, como costumo dizer "modulações de energias"; é como quando eu danço clássico e, logo em seguida vou fazer aula de dança contemporânea ou improvisação. Há modulações de forças que se readequam, mas, a dança está ali, num continuum, assim como o processo de existir.

Em março, como além de estrear o projeto, no dia 20 e de dançar com as meninas, também já iniciei o trabalho para a segunda edição do Luciana Paludo convida... Desta vez, com Douglas Jung; estamos trabalhando e estrearemos dia 30 de abril.

Em 27 de março dancei "Passagens", na Maratona de Dança, promovida pelo Centro Municipal de Dança, no Auditório Araújo Vianna. Foi um momento ímpar, de retomada de energia. Foi incrível trocar tanta energia com tantas pessoas. E então que aconteceu a mágica do silêncio... Eu fico emocionada quando alguma dança minha provoca silêncio.



Fotos Claudio Etges

domingo, 10 de abril de 2016

As cartas como recurso de construção política



As cartas como recurso de construção política
                                                                   Luciana Paludo*

É difícil e tem sido difícil se posicionar - pelo simples fato da violência que brota, à presença de uma ideia que não seja confluente com as ideias dos que estão à nossa volta. Então, ficamos receosos, acuados. E isso incita à segmentação social; à reunião em guetos; à procura de pares de pensamento. Por um lado é bom, mas, por outro, também alimenta dicotomias. Mas, digo: às vezes isso é um recurso de sobrevivência.

            Neste sábado uma das coisas que me fez feliz, juntamente com a alegria de estar viva e de ter o amor da minha família, foi receber uma carta de uma amiga. Minha amiga Roberta mora no Rio Grande do Norte; saiu do Rio Grande do Sul, após ter concluído sua licenciatura em Dança, para lá se estabelecer e trabalhar. Foi então que um dos trechos de sua carta deflagrou a elaboração de concepções que andavam perambulando em meus pensamentos, as quais ainda não haviam se aglutinado em ‘dizeres’ organizados na forma escrita. O trecho da carta de Roberta dizia assim:

Reflexões íntimas à parte, tudo anda bem por aqui, com saúde e com a disponibilidade necessária na vida pra aprender. 
Mas ainda assim ando um pouco preocupada (e tenho certeza que tu também) com a situação entristecedora do nosso país, dos nossos "irmãos de pátria" perdidos nesse prazer pelo ódio. Não sei exatamente como isso tem se manifestado pelo Sul, vejo só de longe, mas aqui soa como uma libertação sem escrúpulos do preconceito e da intolerância históricos, intensificados pelo fundamentalismo religioso coletivo do RN, e agora usufruindo do campo político instável do momento. 
Eu faço o que posso, estudo ao máximo, compartilho os estudos, incito a reflexão consciente e a discussão saudável, mas tenho receio que isso chegue ao apogeu tão desastroso que se apresenta diante de nós.
E mais decepcionante pra mim é ver meus colegas de escola básica imersos na desinformação e no senso comum, e, sem saber pra onde ir, deixam com que os outros escolham seus próprios caminhos. E não era pra ser a escola o berço da autonomia do pensar? (PEDRONI, 2016).

            Eis então que lhe respondi.

Minha muito querida amiga Roberta,

            Que feliz estou com suas palavras! Emocionada pela qualidade da escrita e por você dividir a sensação deste momento de extrema conturbação em nosso país. Digo que vivemos a era do protagonismo vazio, no qual as vozes se mesclam em volumes similares. Há uma polifonia nada harmônica e uma confusão de conceitos, concepções e comportamentos. Todos eles reclamam o direito de "estarem certos", absolutamente certos - e de que seus respectivos pontos de vista são a única verdade. Agora imagina uma porção de gente achando a mesma coisa... Pois então, é o nosso país.
            Quando menciono o protagonismo vazio, também me refiro ao aval que as redes sociais conferem para todo e qualquer discurso; na "rede" há os bem fundamentados e os fundamentalistas... Com a licença para o trocadilho, não acredito nessa simples razão dicotômica, do "ou isso ou aquilo"; é muito mais complexo. Há os valores intermediários e os macios; mas, esses valores não encontram espaços, pois que há as ideias que esqueceram de dançar, de se realizarem em formas fluídas. E então, há um embrutecimento e uma simplificação no modo de compreender as circunstâncias e, consequentemente, agir e se posicionar em relação ao momento em que vivemos.
            Repare: quanto mais duro o pensamento, mais barulhento, mais alto o grito. Pois a certeza é barulhenta. A dúvida fala mais baixo; a ponderação é algo que requer desaceleração.
            E então, o que vejo são propriedades que não estão sendo trabalhadas. Quais sejam: a desaceleração, a ponderação, a busca de observar os fatos sem os fanatismos que reduzem a existência às dicotomias simplistas e de fáceis dizeres.
            Sim, pois junto com a era desse protagonismo vazio, há uma porção de "jargões compartilhados" [palavras-Miojo, como costumo me referir]. Ops, se eu não tenho ideia / ou, palavras para expressar a minha ideia, pego aquela frase de efeito "do outro" e largo na minha time line e, pronto. Está realizada a micro catarse individual que se linka a um coletivo. E então, o desejo de pertencimento, de realização; a impressão de estar "colaborando" com os significados de mundo se avoluma; se inflam. Enchem-se de orgulho e de plena razão. E é justamente ali que mora o perigo.
          O perigo desses jargões que pululam em redes e bocas é realmente que o pensamento cristaliza. Encerra-se na "certeza de que estamos certos". E então, o rechaço do outro e do pensamento que é um pouco dissonante do "nosso" começam a atuar como uma espécie de vírus ameaçador. O pensamento começa a gerar 'anticorpos'. E aí se instaura um ciclo de rejeições e hostilidades à diferença.
            Como viver na diferença... E, num jogo de palavras: “com’viver” na diferença é ter a devida paciência de escutar as razões do outro. E nós (para "o outro") também somos "outro". Então, há um apelo, uma necessidade de se falar nisso; de construir essa noção.
            E, como digo na minha tese [sobre coreografias nas graduações em dança no RS]: há uma pluralidade de danças que compõem os cursos de graduação em Dança do RS [e aí façamos a analogia com a sociedade, em relação à pluralidade de pensamentos e concepções de mundo - pois o micro-cosmo de uma sala de aula tem relação direta com a sociedade]. Então, podemos pensar com Stuart Hall nessas identidades fixas que buscam uma (re)afirmação. Na instabilidade que é aquilo que percebemos como "evolução de pensamento e comportamento" nas sociedades. Na razão cíclica dessas concepções que oscilam entre uma liberdade de ação e um retorno a uma "ordem perfeita" que havia no passado (sic). E aqui podemos pensar na democracia (e na sua ausência) nos direitos das 'minorias' (e na ausência desses direitos)... Para algumas pessoas essa "ausência" se refere exatamente às coisas nos seus devidos lugares [por isso clamam por retornos absurdos]. Sim, pelo simples fato de que isso faz parte de suas referências. E essa referência não 'amacia o olhar' para saber que há outras referências que operam ao seu lado. E lado a lado. 

            Ao dizer isso, recordo de uma citação de Max Weber, a qual se encontra como epígrafe da Parte I, do livro Condição Pós-Moderna de David Harvey; cito:

O destino de uma época que comeu da árvore do conhecimento é ter de... reconhecer que as concepções gerais da vida e do universo nunca podem ser os produtos do conhecimento empírico crescente, e que os mais elevados ideais, que nos movem com mais vigor, sempre são formados apenas na luta com outros ideais que são tão sagrados para os outros quanto os nossos para nós (Max Weber, in, HARVEY, 2014, p. 13).

            Tuas palavras deflagraram essas palavras minhas. Mais do que responder ao e-mail recebido, percebo uma elaboração de minhas incomodações relativas à situação atual de nosso país. É difícil e tem sido difícil se posicionar - pelo simples fato da violência que brota à presença de uma ideia que não seja confluente com outras ideias, dos que estão à nossa volta. Então, ficamos receosos, acuados. E isso incita à segmentação social; à reunião em guetos; à procura de pares de pensamento. Por um lado é bom, mas, por outro, também alimenta a dicotomia. Mas, digo: às vezes isso é um recurso de sobrevivência.

            Continuemos, Roberta, continuemos nossos trabalhos nos lugares que por ora habitamos. Que sejamos fortes, corajosas, generosas, para podermos colocar em jogo, no ambiente em que estamos, uma forma macia de existir; fluída. Mas, que façamos, também, escolhas. Que tenhamos espaço [ou, que consigamos construir esses espaços] para argumentar nossas escolhas.
             No conceito de coreografia que desenvolvo em minha tese, escrevo que coreografias são escolhas; são constituídas de escolhas, portanto, de abandonos. Ou seja, para um movimento estar ali, outro precisou não estar. Podemos agregar outros movimentos, certamente - e trabalharmos na noção de coreografia semi-estruturada. Mas, em algum momento será necessária a clareza, para que tenhamos uma 'estética' que ficará aparente; algo que nos colocará em jogo politicamente. Pois que a estética anda ao lado da ética – ou, incita as relações que serão deflagradoras de uma ética, justamente por nos colocar em jogo com o(s) outro(s). Justamente por operar nessas equações que denominamos "escolhas" e posicionamentos. [Ando observando as "coreografias cotidianas"... As organizações, as estruturas, os 'figurinos', e, pasme, até as dancinhas!] 

Que bom que você me escreveu! E me fez companhia neste tempo em que fiquei escrevendo essas palavras.

Um forte e afetuoso abraço, cheio de ar na cintura escapular.

Lu.
09/04/2016


Referências:
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DPeA, 2005.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 25. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
PEDRONI, Roberta. [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <lupaludo@terra.com.br> em: 09 abr. 2016.

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Luciana Paludo é bailarina, bacharel e licenciada em Dança (PUC-PR/ Fundação Teatro Guaíra). Além de produzir e de coreografar seus trabalhos solos e apresentá-los em diversas cidades do Brasil, realiza investigações coreográficas em colaboração com outros artistas; faz parte do Coletivo de Dança da Sala 209, na Usina do Gasômetro, Porto Alegre. Já desenvolveu trabalho como professora e coreógrafa no Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre, na Companhia Municipal de Dança de Caxias do Sul e na Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre (como professora). É especialista em Linguagem e Comunicação (UNICRUZ), mestre em Artes Visuais (UFRGS), doutora em Educação (UFRGS). Em sua tese pesquisou sobre o status da coreografia nos cursos de Graduação em Dança do RS. Foi professora do Curso de Dança da UNICRUZ (2000-2008), do Curso de Dança da ULBRA (2009-2011). Atualmente é professora do Curso de Dança da UFGRS.