Em 2002, na
cidade de Cruz Alta, por ocasião de estar trabalhando no Curso de Dança da
UNICRUZ, a bailarina Luciana Paludo cria o Mimese cia de dança-coisa. Mais do
que um grupo, ou uma companhia de dança, o "Mimese..." (leia-se
Mímese) é um modo de operar; um conceito operatório. Em sua concepção inicial, era um lugar para que professores, acadêmicos e egressos do Curso de Dança da UNICRUZ realizassem pesquisas de movimento e as testassem em configurações estéticas. O elenco inicial do Mimese era composto por Rubiane Zancan, Wilson França, Janaína Jorge, Katia Kalinka, Vanessa Steigleder, Carla Furlani e Luciana Paludo. Depois, Cris Martel passou a integrar o elenco. Também era um espaço para que algumas produções dos acadêmicos do Curso de Dança, os quais não faziam parte do elenco, experimentassem suas primeiras composições - como foi o caso de Thiago Amorim, Tavane Santa Catarina, Diogo Kronbauer, Annie Heinsfeld, Igor Pretto, Anelise Prestes e Letícia Guimarães; esses três últimos passariam a integrar o Mimese em 2006; Thiago e Diogo colaborariam em apresentações do Mimese, também no ano de 2006. É importante salientar que em sua fase inicial, o Mimese contou com o apoio incondicional de Carmen Hoffmann, que era coordenadora do Curso de Dança, na época em que o grupo foi criado. Ao longo de sua trajetória, o Mimese contou com a colaboração de vários artistas e isso será mencionado no decorrer desta postagem. A seguir, vale conferir um pouco da trajetória de Luciana Paludo, uma vez que o Mimese é um dos desdobramentos, uma das invenções que tem marcado a sua existência dedicada à dança...
Luciana teve sua base de formação no ballet clássico e na dança moderna / contemporânea; em sua graduação, Bacharelado e Licenciatura em Dança (Curitiba, 1987-1990), seus aprendizados passaram pela estética e história das artes; pela cinesiologia e pela fisiologia; pela composição coreográfica; pela prática da improvisação e pela Ideocinese, a qual era praticada nas aulas de ballet clássico. No mesmo tempo em que realizava sua graduação, também cursou a Escola do Teatro Guaíra. Voltou ao RS em 1991 e começou seu trabalho de bailarina, professora e pesquisadora, de maneira autônoma; sua característica se delineou com os trabalhos em colaboração, inicialmente com seus alunos, depois, com outros artistas. Entre os anos de 1992 e 2000, criou e dirigiu do “Balé do INSA" - Instituto Nossa Senhora Auxiliadora - colégio que gentilmente emprestava o espaço para as atividades do grupo acontecer,
Você pode conferir a coreografia "Hall of mirror",
dançada pelo grupo no link: https://www.youtube.com/watch?v=p_7ZllB0O48 .
Os experimentos
com o Balé do INSA levaram Luciana a iniciar um processo de pesquisa, docência,
composição e interpretação de seus próprios movimentos; aos poucos, a relação entre a preparação
corporal e o resultado coreográfico entrava em evidência. É importante
salientar que desde que retornou de Curitiba, PR, para o RS, a preparação
corporal diária sempre foi feita pela própria bailarina, em colaboração com
seus alunos. Obviamente, sempre realizou cursos de aperfeiçoamento com outros
professores, mas, o trabalho de manutenção, descobertas e desenvolvimento das
possibilidades corporais, é feitos de maneira autônoma, todos os dias, há 26
anos. Entre os anos de 1999 e 2001, Luciana criou e interpretou solos
curtos, os quais ela levou para festivais competitivos de dança - uma vez que
circular sua produção, morando no Interior do RS, não era uma tarefa tão fácil.
Obteve reconhecimento da crítica dos festivais e conquistou diversas
premiações, entre as quais, duas vezes o 1º lugar, no solo contemporâneo
avançado, no Festival de Dança de Joinville: em 2000 com a coreografia "Um
piano só"; em 2001 com "Mesmo assim", trabalho que lhe daria a
premiação de melhor bailarina do festival.
Motivada pelas pesquisas de movimento, em 2002 criou o “Mimese cia de dança-coisa”, como um Projeto de Extensão da UNICRUZ. O Mimese desenvolveu linguagem e repertório; não somente Luciana coreografava, mas, os seus integrantes, os quais eram professores, acadêmicos e egressos do Curso de Dança da UNICRUZ. Também Mario Nascimento trabalharia com o grupo, coreografando “Além Disso” (conjunto); “Quem engana não ganha” (trio) e “Se a morte bater na minha porta, diga a ela que volte amanhã” (solo). Em 2006, no Projeto Casa Bild, idealizado pela coreógrafa Jussara Miranda, Luciana desenvolveu o trabalho “Um corpo bem de perto”, o que lhe renderia reconhecimento da crítica e três Prêmios Açorianos de Dança, em 2007 (melhor bailarina, coreografia e trilha sonora, em colaboração com Carolina Sulczinski).
Desde que havia
ingressado no Mestrado em Artes Visuais (2004),
começou a criar o conceito de “Os humores do poeta”; em 2005, por um trabalho
em colaboração entre artistas de várias vertentes da arte, esse espetáculo
surgiu pela primeira vez. Estreou no Teatro de Arena em Porto Alegre e contou
com a colaboração dos artistas Amelia Brandelli, Paula Krause, Katia Kalinka,
Daggi Dornelles e Tadeu Liesenfeld. "Os humores..." transitava entre
a coreografia e a performance; ganhou incentivo do Prêmio de Circulação
Nacional - Dança da FUNARTE, em 2007. Foi apresentado em diversas cidades
brasileiras; em cada cidade havia um artista convidado, com o qual foi possível
trabalhar, de maneira virtual e presencial, durante o mês da
apresentação. As cidades que receberam o espetáculo "Os humores do
poeta" foram: Porto Alegre, em sua estréia com o bailarino e coreógrafo
Eduardo Severino; Florianópolis, com a bailarina e coreógrafa Elke Siedler; São
Paulo, no Centro Cultural São Paulo, tendo como artista convidado o bailarino e
coreógrafo Mario Nascimento; Curitiba, com a bailarina e pesquisadora Marila
Velloso; Votorantin, SP, com os bailarinos Jeniffer Vieira e Rodrigo Chiba; e,
novamente, em Porto Alegre , para o
encerramento da Caravana, onde a colaboração foi feita com as bailarinas Daggi
Dornelles e Janaína Jorge (em memória). Sempre contando com a presença da
artista visual Paula Krause e com a colaboração, na trilha sonora do músico
Pedro Rosa Paiva.
Coreograficamente,
a realização do projeto, como um todo, de “Os humores do poeta” movimentou toda
uma maneira de lidar com a composição coreográfica da bailarina Luciana Paludo.
E isso novamente influenciou a sua maneira de fazer e de dar aulas. A
improvisação passou a fazer parte da cena – e das aulas; o inusitado; a
coreografia não tão determinada; a performance. Ressalta-se que a improvisação
sempre foi praticada pela bailarina, desde os tempos da faculdade; mas, nesse
momento, a improvisação passou a ser uma "questão de
composição". Todas essas questões tiveram influências, além dos
artistas da dança, do convívio com artistas de outras áreas, durante o mestrado
nas artes visuais; também, pelo fato de “abrir a cena para artistas
convidados”, os quais colaboram para a ressignificação de modos de mover e,
também, de pensamentos. “Os humores do poeta” era uma metáfora usada para
sinalizar uma certa contradição
estética, na obra de Luciana – ou, talvez, uma “falta de identidade e
pertencimento” da bailarina. Oriunda do ballet clássico e da dança moderna,
suas pesquisas de composição e seu exercício docente a levaram a sistematizar
um modo de operar com a dança que tem relação com os preceitos contemporâneos
de dança.
Então, cada trabalho sempre esteve permeado pelas perguntas: “O que dançar? Como dançar? O que se pode levar à cena? Como lidar com as referências consideradas, por alguns pares da dança, “antigas” da dança moderna? Eram muitos conflitos, uma vez que as criações encontravam diferentes exigências de públicos... Havia o público “dos festivais”; o público “do espaço acadêmico”; o "público em geral da dança" e essa tríade já era mais que o suficiente para alimentar os conflitos e as discussões – sempre compartilhadas com o elenco do Mimese cia de dança-coisa.
Desde 2007, até
os dias atuais, o Mimese trabalha por projetos; convida outros artistas para
atuar em colaboração e realiza produções independentes. Um dos últimos
trabalhos em colaboração do Mimese é "Sala Vazia" (iniciado em 2013):
o coreógrafo Diego Mac assina as imagens do vídeo, Pedro Rosa Paiva e Diego
Poloni, a trilha sonora e o figurino é da bailarina e figurinista Laura Bauermann
- para a concepção de Luciana Paludo. Veja o vídeo neste link: https://www.youtube.com/watch?v=wLJa230Vab4
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